Tags: na sala de espera do tempo...
Estavam as comadres tricotando poemas. Umas dobavam, enrolando em novelos as conversas.
Todas na mesma sala esperando o homem que nunca veio.
De repente, como que se faltasse gente, começaram as comadres a tricotar o sonho e o devaneio, dando malha ao texto que já se estendia longo pelo chão.
Depois vieram as saudades. Ai as saudades…
De um amor que nunca foi, de uma vida que não aconteceu.
E quanto mais suspiravam mais tricotavam: cachecóis de palavras, mantas de sentimentos aos retalhos e toda uma panóplia de inúteis agasalhos.
Neste tricotar nem repararam, as comadres daquela sala, muito menos as que só dobavam, que era a si mesmas que se enrolavam.
De poema verdadeiro, desse que se impregna na pele e nos aquece por dentro, quase nada.
O homem desejado nunca chegaria, muito menos nu, para se vestir no fio daquela meada.
O meu último livro:
«Para além do tempo» - Contos
Temas Originais - Coimbra 2010
www.joseilidiotorres.blogspot.com
Autor : josetorres
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